Artemisia Gentileschi
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Artemisia Gentileschi



Artemisia Gentileschi nasceu no final do século XVI, em Roma, em 8 de julho de 1593. Cresceu no atelier do pai e pintor Orazio Gentileschi. Apreendeu todas as fases da produção de uma pintura: produzir pincéis, moer pigmento, preparar fundo de telas, até se tornar pintora especialista em representações de figuras femininas desnudadas ou vestidas com a indumentária mais sofisticada de seu tempo.


Artemisia enfrentou mazelas comuns às mulheres de sua época. Foi vítima de um desvirginamento forçado, ou estupro se utilizarmos termos mais contemporâneos. O crime foi cometido pelo pintor paisagista Agostino Tassi, em 1611. Os casamentos reparadores eram comuns naquele contexto, inclusive permaneceu vigente na lei italiana até a segunda metade do século XX. Contudo, a reparação do crime não foi possível por meio do casamento, tendo em vista que Tassi já tinha esposa na região da Toscana, tendo sido acusado de encomendar a morte dela para efetivar o matrimônio com Artemisia.


Nessa conjuntura, a única forma de recuperar a honra da família da pintora seria por meio de um processo-crime inquisitorial, aberto por Orazio Gentileschi, em 1612. Os processos-crime por estupro daquele contexto não visavam justiça como entendemos hoje, mas sim “arrancar a verdade” dos interrogados. Assim, Artemisia foi submetida a exames ginecológicos e à tortura para ratificar os fatos. Agostino Tassi foi considerado culpado, mas pouco depois foi perdoado em razão de suas amizades influentes na corte papal. Para Artemisia o processo-crime significou grande exposição pública em Roma, cidade que possuía cerca de 150 mil habitantes na época.


Com o fim do processo, Orazio Gentileschi buscou um noivo e por meio do casamento de conveniências com o florentino Pietro Antonio Stiattesi, Artemisia Gentileschi mudou-se para Florença, em janeiro de 1613. Na Cidade do Lírio passou a produzir para a Corte de Cosme II de Medici, governador da Toscana. A permanência da pintora na cidade criou condições para que alcançasse reconhecimento como pintora, foi a primeira mulher aceita como membro da Academia de Desenho de Florença, que tinha sido criada por Giorgio Vasari, há cerca de meio século.

Em Florença Artemisia Gentileschi passou a ter seu próprio atelier, foi aluna de Galileu Galilei e construiu uma importante rede de relações com mecenas, políticos e potenciais comerciantes que encomendavam suas obras. Na temporada em Florença teve quatro filhos, entre os quais apenas uma das menina chegou à idade adulta, os outros morreram precocemente, o que era bastante comum na época.

A artista ainda residiu em outras importantes cidades da Europa, como Veneza, Nápoles - na época capital do vice-reino espanhol -, e Londres, para onde viajou à convite do rei Stuart. Inserida no contexto das cortes do século XVII, Artemisia desenvolveu uma produção à altura das exigências de alguns dos mais importantes líderes políticos e colecionadores de sua época. Suas representações possuem em comum, sobretudo, a força das figuras femininas. Atravessadas por réstias de luz, inseridas em cenas teatrais de fundos escuros ou vistas em perspectiva, em cenários externos ou ambientes internos, quase sempre em primeiro plano, regendo armas ou em fuga, são imagens que testemunham a excelência da pintora em retratar as diferentes facetas do feminino.


A artista inseriu sua obra nas discussões sobre a arte e a pintura em voga na época, a exemplo dos autorretratos produzidos ao longo de sua trajetória. Imagens que revelam construções de si como pintora e estudiosa da figura humana em espaços de circulação de figuras da nobreza, do clero e colecionadores. Os autorretratos de Artemisia são composições que evidenciam a preocupação da artista em construir uma imagem de si mesma como pintora, questão presente também em suas correspondências, nas quais exaltava sua fama internacional como estratégia para valorizar suas criações.







Texto por: Cristine Tedesco – Doutora em

História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com período de bolsa sanduíche - Erasmus Plus - de 12 meses na Università Ca’ Foscari de Veneza (2016-2017). Desenvolve estudos sobre o protagonismo feminino nas artes no período entre os séculos XVI e XVII, na península italiana. Investiga e analisa, em especial, a vida e a obra da pintora Artemisia Gentileschi (1593-1654).


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